sexta-feira, 29 de abril de 2011

Favelado que a elite não esperava!

Ouvi alguém dizer...
Que não sou boa gente.
Que eu não tenho poder.
E que se eu passar dos 30,
já passei da validade de viver...

Outros me disseram...
Que sou mero favelado.
Que ando com tênis sujo enlameado.
Que sou um pé rachado.
E não tenho se quer procedê.

Mas o tempo é patriarca.
O tempo é rei meu camarada!
Quem um dia, abriu a boca pra dizer....
Se surpreende com livros na minha mão.
Abre a boca agora, não entendendo o porque!

O favelado que a elite não esperava.
Escreve livros e participa,
das manifestações literárias.
E continua com o pé rachado,
com o tênis furado.
E ainda favelado.

O tempo é rei, o tempo é patriarca.
O bandido verdadeiro,
Se não tem gravata, veste farda.
E o poder não é...
Pra essas malas estereotipadas.

Não preciso mudar da favela.
O que preciso é contribuir pra mudar.
A visão que "eles" tem sobre ela. .
E que somos boa gente.
E não é com uma arma na mão.
Mas de uma forma inteligente.



domingo, 24 de abril de 2011

Dia Santo

Dia especial
Um dia santo
Todos os dias
Nem todos são santos
Para todos os santos
Todos trabalhando
Trabalho é santo
É santo trabalhando
Se santificando
Abençoado o trabalho
E que esse seja santo
Que assim seja
Santos dias
Trabalhados
Que seja assim
Um dia especial
Um dia santo
Sem guerras
Com paz
Sem lutas
Com harmonia
Sem competição
Com solidariedade
Sendo assim
Um dia santo
Um santo dia a dia
Todo dia é santo
Que assim seja.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Suicida em potencial

Foi ao poço e caiu em seu fundo, depois de ter percorrido um longo espaço de lama. No seu rosto derramaram-se lágrimas, que materializadas em suas recordações sentia-se a mais infeliz da espécie humana.

Era o sacrifício que concretizava a maior de suas dores, viver, nunca fora nada daquilo que almejava, nem aquilo que agora experimentara, não havia reconhecimento de sua pessoa, diante da sociedade, ao que já tinha realizado.

E o que um dia pensava ter sido um amor, o havia rejeitado, menosprezado, humilhado. Não queria ter uma existência de individuo frustrado.

E no auge de sua angústia, seu coração endureceu-se, e esse peso enrijecido, compelia sua própria alma, negando tudo que já tinha feito e sem esperança alguma, do que ainda poderia fazer.

Até ali seu mundo era um oceano de ilusão, em nada mais acreditava.

Pensava seriamente em saltar de uma passarela, no meio de uma via movimentada em um fluxo constante de carros e caminhões, exterminando assim suas psicoses.

Ou mesmo compraria um revolver, de qualquer calibre, introduzindo assim um projétil em seu crânio, pensou também em afundar-se em uma grande quantidade de cocaína, que o levaria a uma overdose imediata, ou mesmo se atiraria nos trilhos de um trem de qualquer estação próximo a sua casa.

Não importava a forma pensava neuroticamente em exterminar-se.

De tudo isso nada fez, porém, já era um suicida em potencial e de todos os males que pensou em fazer consigo mesmo, fez aquilo que um covarde faria.

Viver se lamentando o resto de sua existência arruinada.

Acreditando que de todos os infortúnios o maior de todos foi ter nascido nesse mundo e sujeitar-se a viver por causa natural. Das conseqüências de sua covardia.

O mundo dele já não mais existia.

sábado, 9 de abril de 2011

Aos tradicionalistas

Não tem problema,
você finge que ensina
eu finjo que aprendo.
Por vezes diz coisas que eu não entendo.
Mas é assim mesmo,
vivendo e aprendendo.
Suas palavras difíceis,
cultas e coloquiais.
Viram dialetos para o meu vocabulário,
enriquecido pelas gírias marginais.
Sou cidadão periférico,
vejo tanta coisa errada.
E é por isso que eu contesto.
Sua dialética, sua didática,
afirmando que está tudo bem,
que está tudo certo.
Reproduzindo os fatos escritos,
pelos malditos vencedores....
Precursores da miséria.
Vou continuar apenas fingindo que acredito.
Fingindo que aprendo,
algo que pra mim não tem o menor sentido.
Como um recipiente vazio de um monte de lixo.
Depositando mentiras e crueldades.
Não tem problema.
Só não cai pra grupo.
Com a literatura marginal,
eu me armo obtenho meu escudo.